A diabetes mellitus é uma doença crónica, multiorgânica, com uma prevalência e incidência crescentes associada a elevadas taxas de morbilidade e mortalidade. Pode apresentar várias complicações a curto e longo prazo que afetam diversas áreas do corpo.
O aumento da prevalência da diabetes e o aumento da esperança média de vida destes doentes dá lugar ao aparecimento de complicações tardias, como as úlceras de pé diabético (UPD).
O pé diabético é uma das complicações mais graves da diabetes e resulta do mau controlo metabólico, ou seja, do açúcar elevado no sangue (hiperglicemia). Esta hiperglicemia mantida tem as seguintes consequências:
- Afeta os nervos (neuropatia), lesando-os e conduzindo a uma perda de sensibilidade, fazendo com que a pessoa não sinta dor;
- Condiciona a circulação sanguínea (arteriopatia), os vasos ficam mais estreitos, fazendo com que os pés recebam menos sangue e a cicatrização seja mais difícil, podendo em casos graves levar à amputação ou à perda parcial do pé;
- Dá origem ao aparecimento de deformidades (artropatia), alteração da anatomia do pé, que podem provocar feridas devido à fricção com o calçado.
5 cuidados para prevenir o pé diabético
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Controlo metabólico adequado
A possibilidade de que uma pessoa com diabetes desenvolva uma UPD é de 15% a 25% ao longo da sua vida. O risco aumenta quando a diabetes está mal controlada ou se associam fatores como obesidade, hipertensão arterial ou tabagismo.
O risco de neuropatia aumenta 10 a 15% por cada aumento de 1% no valor da hemoglobina glicada, HbA1c. Assim sendo, o adequado controlo dos níveis de açúcar no sangue (glicemia), bem como dos restantes fatores de risco como a tensão arterial, gorduras no sangue (colesterol e triglicéridos), excesso de peso e tabagismo é essencial para minimizar o risco de UPD.
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Prática regular de exercício
A prática de exercício regular, salvo contraindicação médica, e seguir uma dieta equilibrada permitem melhorar a circulação sanguínea nos pés e controlar os níveis de açúcar no sangue, respetivamente.
O risco de ulceração do pé não é um obstáculo à prática de exercício físico, desde que se use um calçado adequado, com um aumento gradual da atividade física para mais de 1000 passos por dia. Adicionalmente, pode ser considerado um programa de exercícios para o pé e tornozelo a fim de melhorar a mobilidade articular muitas vezes diminuída neste tipo de doentes.
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Autovigilância
Uma pessoa com diabetes deve ter atenção permanente com os seus pés e seguir um conjunto de recomendações no seu dia a dia:
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- Aspeto dos pés
- Examinar os pés diariamente;
- Verificar se existem fissuras, cortes, flictenas (bolhas na pele que contêm líquido), calos ou vermelhidão;
- Examinar as unhas;
- Verificar que as unhas não têm cor escura ou estão engrossadas, pode indicar que há uma infeção;
- Vigiar alterações de temperatura e cor da pele;
- Um pé frio, pálido ou mesmo azulado pode indicar má circulação, enquanto o aumento de temperatura e vermelhidão pode indicar inflamação da zona ou mesmo infeção.
- Higiene
- Lavar os pés diariamente durante não mais de 10 minutos utilizando água não muito quente (tépida) e sabão neutro;
- Secar bem os pés com uma toalha macia, sem friccionar a pele, especialmente entre os dedos;
- Aplicar creme hidratante com 10% de ureia, exceto entre os dedos, para manter a pele hidratada;
- Evitar cortar as unhas. Em vez de cortar, limar as unhas com lima de cartão, a direito, pelo menos uma vez por semana;
- Não cortar calosidades, não usar calicidas, nem tirar cutículas ou os cantos da unha. Se tem calos ou dificuldade em cortar as unhas recorra a um podologista.
- Perigos
- Não caminhar descalço;
- Não aquecer os pés com mantas elétricas, sacos de água quente, à lareira ou braseira ou em contacto direto com aquecedores;
- Não seque os pés com secadores;
- Evitar a exposição ao sol.
- Outros
- Mudar diariamente de meias, assegurar-se que não tenham costuras, nem sejam demasiado apertadas e de tecidos sintéticos (meias 100% algodão ou de lã no inverno).
- Aspeto dos pés
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Calçado
O calçado é o principal fator de risco de ulceração externa!
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- Antes de calçar os sapatos, verificar o seu interior;
- Usar calçado com características adequadas ao pé diabético e de acordo com o risco de ulceração (Sistema de estratificação de risco de ulceração IWGDF).
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Vigilância periódica em consulta especializada de Pé Diabético
A complexidade dos cuidados do Pé Diabético exige consulta especializada. O seguimento em consulta da especialidade permite:
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- Identificar a pessoa com pé de risco;
- Inspecionar e examinar periodicamente os pés da pessoa com pé de risco permitindo identificar precocemente lesões ou deformidades potencialmente causadoras de úlceras;
- Realizar correção cirúrgica de deformidades potencialmente causadoras de úlceras (cirurgia profilática);
- Proporcionar educação estruturada sobre Pé Diabético a doentes e familiares;
- Fomentar o uso habitual de calçado adequado;
- Tratar patologia ulcerativa.
A adequada estratificação do risco de ulceração, a identificação de situações onde a cirurgia profilática pode ser uma mais-valia na redução do risco de ulceração, o diagnóstico precoce da doença arterial periférica e o tratamento da patologia ulcerativa com enfoque conservador requerem diferenciação técnica nesta área de conhecimento.
Dra. Carla Menezes
Especialista em Cirurgia Geral e Pé Diabético
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