Nas discussões familiares é ainda comum a opinião das crianças ser a menos importante no que toca às tomadas de decisões, até naquelas que mais as afeta. Mas desengane-se: não só é fundamental a participação ativa dos mais pequenos, como também é um direito consagrado por lei.
A 20 de novembro de 1989 foi adotada a Convenção sobre os Direitos da Criança pela Assembleia Geral das Nações Unidas. É o primeiro documento que incorpora um conjunto de direitos e assenta em quatro pilares fundamentais: a não discriminação, o interesse superior da criança, a sua sobrevivência e desenvolvimento, e a opinião da criança.
Segundo a equipa de Psicologia Clínica do Hospital Cruz Vermelha, “as crianças estão atualmente muito mais próximas do mundo dos adultos do que as gerações anteriores”. Um facto que tem contribuído para relações “mais próximas, mais verdadeiras e com partilha de poder”. A mudança deste paradigma tornou possível “as crianças expressarem aquilo que pensam e influenciarem decisões familiares de onde anteriormente eram excluídas e tudo era decidido pelos adultos, sem qualquer possibilidade de participação.”
Os mais pequenos devem, assim, crescer com voz ativa nos ambientes no qual se inserem, sejam eles em casa, na escola ou na comunidade. “Quando elas se sentem ouvidas também se sentem importantes e incluídas. Isso contribui também para que cresçam com sentimentos positivos sobre si próprias, ajudando o desenvolvimento da sua autoestima e confiança”, garante a equipa de Psicologia.
Deixe os mais pequenos participarem nas conversas mas tome cuidado
É fundamental que as crianças se sintam escutadas, mas não permita que tenham o poder de decisão. Tome em consideração o que os seus filhos têm a dizer, expressando o que pensam sem medos ou inseguranças, mas a última palavra é sempre sua.
“Por vezes assistimos a pais demasiado inseguros na gestão das opiniões e vontades das crianças e do que consideram ser as melhores opções para os filhos, o que os impede muitas vezes de fazerem uso da sua autoridade”, afiança a equipa de Psicologia Clínica do Hospital Cruz Vermelha que assegura ainda que “para um bom crescimento dos filhos” é também necessário que os pais “definam por eles regras, estabeleçam limites e tomem decisões”.
“As crianças precisam de tudo isto para crescerem bem e com sentimentos de segurança. Ter poder a mais em idades precoces é quase sempre altamente desorganizador, bem como contribui para desenvolver comportamentos de omnipotência na relação com os outros”.
Saiba como fomentar e melhorar as conversas com os seus filhos
Sugestões para desenvolver e aperfeiçoar a comunicação entre pais e filhos:
- Ouça a opinião dos seus filhos, mesmo que esta divirja da sua – Os pais têm por vezes dificuldade em ouvir pois receiam que as opiniões dos filhos sejam contrárias às suas. Se queremos ouvir uma opinião do nosso filho temos realmente que estar preparados para que a mesma seja diferente da nossa. Ainda que a decisão dos pais deva sempre prevalecer no final.
- Dedique tempo de qualidade para conversar com os seus filhos – Desde os temas mais banais do dia-a-dia às questões mais exigentes, este é um diálogo que tem que ser desenvolvido e aprendido desde cedo e que não pode esperar pela adolescência. Até porque se assim for isso não vai acontecer.
- Mantenha uma atitude de escuta atenta e livre de julgamentos – A criança deve sentir liberdade para exprimir aquilo que pensa, algo fundamental em relações que se querem verdadeiras. De outra forma criamos relações onde os nossos filhos saberão exatamente o que dizer para nos agradar, pois sabem quase sempre o que queremos ouvir.