A recente situação criada entre a Rússia e a Ucrânia tem levantado inúmeras questões relacionadas com segurança. A problemática das centrais nucleares é uma delas, o que tem causado enormes receios entre as pessoas. Por este motivo, houve um aumento exponencial da procura de medicamentos à base de iodo por toda a Europa, e Portugal não foi exceção.
Mas qual a relação entre o iodo e os acidentes associados às centrais nucleares?
Quando ocorre um acidente nuclear, o iodo radioativo é uma das primeiras substâncias lançadas na atmosfera. Pode ser absorvido pelo ar, pelos alimentos e até mesmo pela pele, e é armazenado naturalmente na tiroide. O iodo radioativo é cancerígeno e ataca as células do tecido desta glândula.
De igual forma, a substância iodeto de potássio (constituinte dos medicamentos à base de iodo disponíveis para venda) também se armazena na tiroide. Se o iodeto de potássio for administrado em doses elevadas, a glândula ficará sobrecarregada, e não consegue absorver mais iodo, quer seja inócuo ou radioativo.
Se o iodeto de potássio for administrado de forma suficiente, não vai existir espaço na tiroide para o iodo radioativo. Ao não se conseguir acumular na glândula, este será eliminado pelos rins.
Os comprimidos à base de iodo, contudo, não protegem contra outras substâncias radioativas. Também não faz sentido tomá-los de forma preventiva, isto é, antes da ocorrência de um acidente nuclear, uma vez que a tiroide só os vai armazenar durante um determinado período. É também importante salientar que a ingestão de doses excessivas de iodo pode ser prejudicial, e causar riscos sérios à saúde, através de reações cardíacas e renais graves, que podem mesmo provocar a morte.
Os medicamentos que contém iodeto de potássio comercializados em Portugal apresentam como indicações terapêuticas a correção de deficiências nutritivas e a prevenção de defeitos do tubo neural e de distúrbios neurológicos do feto durante a gravidez. São sujeitos a receita médica e devem ser tomados de acordo com indicações médicas. As dosagens disponíveis (0,2mg e 0,3mg) são muito inferiores à dosagem recomendada após um acidente nuclear (65mg).
Concluindo, é importante perceber que os medicamentos à base de iodo não são vacinas protetoras de radiação, nem tratamentos permanentes. É totalmente desaconselhado adquirir os mesmos com este intuito, pois além dos riscos que podem ter, não são úteis nem eficazes na proteção radioativa.
Dra. Ana Rita Queiroz, Direção Técnica dos Serviços Farmacêuticos do Hospital Cruz Vermelha