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Criança doente: e agora?

Criança doente

Para muitos pais, as primeiras vezes em que os seus filhos ficam doentes são assustadoras. Crianças com febre, constipadas, com tosse, a vomitar, com diarreia ou com pintas – e agora? Devo ir para a urgência? Deve ser observada? O que devemos fazer?

Qual a idade da criança?

Em primeiro lugar, devemos ter em conta a idade. Bebés pequenos (com menos de três meses), sobretudo recém-nascidos com febre (mais de 38ºC axilar ou rectal) devem ser observados em pouco tempo.

São sinas de alarme gemer, não querer mamar ou mamar mal, ou vomitar. Por outro lado, as urgências hospitalares são o sítio garantido onde estão crianças doentes e de onde o vosso filho pode trazer o que não levou. Na dúvida, contacte o médico assistente, a linha saúde 24 (800 242 424), ou outras linhas de apoio com profissionais de saúde especializados.

  1. Febre

A partir dos 4 meses, os bebés perdem algumas das defesas que receberam durante a gravidez e começam a ter pequenas infeções, geralmente virais, sobretudo se frequentam a creche ou convivem de perto com outras crianças que já andam na escola.

Consideramos febre uma temperatura superior a 38ºC (axilar ou rectal) e é um importante mecanismo de defesa em caso de infeção. Se a febre baixa após a administração de paracetamol (em dose adequada ao peso atual), se a criança sem febre brinca, sorri, faz asneiras e vai comendo, ficamos tranquilos.

A sugestão é que a criança doente seja observada, se a febre durar mais de três dias, idealmente pelo seu médico assistente. Se, pelo contrário, a febre for muito alta (39.5-40ºC axilar), a criança tremer muito quando está a subir, não baixar com a administração de antipirético em dose adequada, continuar pouco ativa mesmo sem febre, vomitar sem parar ou tiver manchas na pele, deve ser observada. Na dúvida contacte o médico assistente, a linha saúde 24 (800 242 424), ou outras linhas de apoio com profissionais de saúde especializados.

  1. Ranho e/ou tosse

Vem a época das constipações, dos narizes ranhosos e da tosse. É uma competência importante as crianças aprenderem a assoar o nariz (geralmente a partir dos dois anos, com muita paciência por parte dos pais).

O soro fisiológico no nariz é um auxiliar precioso. Deve existir bom senso nas lavagens nasais e evitar demasiada pressão em bebés pequenos ou se a criança se queixar de dor de ouvidos durante ou após a lavagem.

A tosse é um mecanismo fisiológico para limpar as vias respiratórias e não deve ser inibida. Geralmente, classificamos a tosse em seca e produtiva (com expetoração). A tosse seca sem parar, sobretudo se acompanhada de “gatinhos” ou de voz rouca com tosse “de cão”, pode ser sinal de dificuldade respiratória (falta de ar).

As “covinhas” no pescoço, entre as costelas ou na barriga ao respirar (a que chamamos tiragem) também são sinal de dificuldade respiratória, assim como o bebé respirar muito depressa, cansar-se a mamar, gemer ou estar de olho fechado com balanceio da cabeça quando espira. Neste caso, a criança doente deve ser observada a curto prazo porque pode precisar de medicação ou de outro tipo de suporte.

A tosse produtiva (com expetoração) é muito comum nas infeções respiratórias virais e geralmente piora de noite, com a criança na posição horizontal. Ajuda assoar ou limpar o nariz e levantar um pouco a cabeceira da cama. O mel a partir dos 12 meses de idade também pode ser uma boa opção.

Se a tosse durar muitos dias, a criança tiver dificuldade em descansar de noite ou provocar vómitos, deve ser observada idealmente em consulta pelo seu médico assistente. Se pelo contrário se acompanhar de febre alta, com tremor ou durante mais de dois dias, se tiver sinais de dificuldade respiratória ou se a criança estiver muito prostrada deve ser observada a curto prazo.

  1. Dor de garganta

A dor de garganta é um sintoma muito comum. Se vier acompanhada de febre e/ou manchas na pele pode ser uma amigdalite de origem bacteriana, a criança deve ser observada e, se for caso disso, medicada com antibiótico.

Se em simultâneo houver ranho, tosse ou diarreia é mais provável tratar-se de uma infeção viral. Na dúvida, pode ser realizada uma zaragatoa na orofaringe para teste rápido (de antigénio do Strepto A).

Quando há indicação para antibiótico, este pode ser oral (xarope ou comprimidos conforme a idade) ou penicilina intramuscular. A penicilina é muito eficaz e está sobretudo indicada nos doentes que estão a vomitar, tomam mal os medicamentos ou têm amigdalites de repetição.

O tratamento sintomático com paracetamol e/ou ibuprofeno (em dose adequada ao peso atual) é importante. Os alimentos frios também ajudam a aliviar os sintomas. Se não houver nenhum dos sinais de alarme já referidos, a criança pode ser observada em consulta, idealmente com a possibilidade se fazer a zaragatoa se necessário.

  1. Vómitos

Os vómitos são também um sintoma muito comum na criança doente. Podem surgir isolados ou associados a outros sintomas como dor de barriga, diarreia, febre, dor de cabeça ou tosse.

Se a criança vomitar sem parar e não tolerar nada no estômago, pode desidratar e precisa de ser observada. Nestas circunstâncias, e porque geralmente as crianças estão sem comer há muito tempo, pode ser oferecido um chupa-chupa – que deviam ser vendidos por receita médica nas farmácias! – e, quinze minutos depois, começar a oferecer líquidos fracionados – “aos golinhos” – para beber.

Se a criança continuar a vomitar sem parar, tiver sinais de desidratação (boca seca, olho encovado, fazer muito pouco xixi), dor de cabeça ou febre alta, deve ser observada a curto prazo. Vómitos recorrentes devem ser avaliados e eventualmente investigados com o médico assistente.

  1. Diarreia

A diarreia com poucos dias de evolução, sobretudo, se associada a febre, vómitos e dor de barriga, surge habitualmente no contexto de gastroenterite aguda. Nestes casos, o mais importante é prevenir a desidratação, oferecendo para beber um soro de hidratação oral (estão disponíveis nas farmácias e parafarmácias várias opções e sabores, já preparados ou em carteiras).

Os medicamentos para “parar” a diarreia (como a loperamida) devem ser evitados. Geralmente é autolimitada e pode ser tratada em casa. No entanto, se a criança apresentar sinais de desidratação, dor de barriga muito intensa, repercussão importante no seu estado geral ou sangue nas fezes deve ser observada a curto prazo.

Na dúvida, contactem o vosso médico assistente, a linha saúde 24 (800 24 24 24), ou outras linhas de apoio com profissionais de saúde especializados. Se durar mais de 10-14 dias também deve ser avaliada, idealmente, com o seu médico assistente, porque pode ser necessário excluir outras causas.

  1. “Pintas” na pele

As manchas na pele (ou exantemas) são bastante frequentes e, geralmente, têm uma apresentação típica consoante a causa. As manchas arroxeadas (tipo nódoa negra) ou tipo cabeça de alfinete (petéquias), que não desaparecem quando passamos um dedo ou encostamos um copo de vidro, são preocupantes e justificam observação a curto prazo na urgência, sobretudo se a criança tiver febre ou se encontrar prostrada.

A escarlatina normalmente dá febre, dor de garganta, e um exantema áspero no tronco (tipo lixa) e na face com palidez perioral – a criança deve ser observada – e, se confirmado o diagnóstico, medicada com antibiótico.

A doença da boca-mão-pé é viral, pode dar febre ou diarreia e borbulhas à volta da boca, perianal, nas palmas das mãos e plantas dos pés. O exantema súbito é também viral e surge em bebés e crianças mais jovens.

Geralmente, depois de três dias de febre (que pode ser muito alta), a criança fica muito bem-disposta mas com exantema exuberante rosado na face e no tronco. Na dúvida as “pintas” devem ser sempre avaliadas. O grau de urgência dependerá sempre do estado geral da criança. Na maior parte das situações, não se justifica ir a correr para a urgência hospitalar ao primeiro sintoma de doença.

Se a criança tem mais de três meses, está bem-disposta e a fazer asneiras, poderá esperar por uma consulta a curto prazo no seu médico. Se pelo contrário se encontrar muito prostrada, mesmo sem febre, com febre muito alta, a tremer muito e não baixa ou há muitos dias, a vomitar sem parar, com falta de ar, desidratada ou com manchas estranhas na pele, deve ser observada rapidamente, eventualmente numa urgência.

Isabel Saraiva de Melo
Coordenadora da Pediatria na Clínica da Mulher e da Criança do HCV

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